21.5.09

Poetry Rules - Jorge Luís Borges

O Outro Poema dos Dons

Graças quero dar ao divino labirinto dos efeitos e das causas
pela diversidade das criaturas que formam este singular universo,
pela razão, que não cessará de sonhar com um plano do labirinto,
pelo rosto de Helena e a perseverança de Ulisses,
pelo amor que nos deixa ver os outros como os vê a divindade,
pelo firme diamante e a água solta,
pela álgebra, palácio de precisos cristais,
pelas místicas moedas de Angel Silésio,
por Schopenhauer que decifrou talvez o universo,
pelo fulgor do fogo que nenhum ser humano pode olhar sem um assombro antigo,
pelo acaju, o cedro e o sândalo,
pelo pão e o sal,
pelo mistério da rosa que prodiga cor e não a vê,
por certas vésperas e dias de 1955,
pelos duros tropeiros que, na planície, arreiam os animais e a alba,
pela manhã em Montevideu,
pela arte da amizade,
pelo último dia de Sócrates,
pelas palavras que foram ditas num crepúsculo de uma cruz a outra cruz,
por aquele sonho do Islão que abarcou mil noites e uma noite,
por aquele outro sonho do inferno, da torre do fogo que purifica e das esferas gloriosas,
por Swedenborg, que conversava com os anjos nas ruas de Londres,
pelos rios secretos e imemoriais que convergem em mim,
pelo idioma que, há séculos, falei em Nortúmbria,
pela espada e a harpa dos saxões,
pelo mar que é um deserto resplandecente e uma cifra de coisas que não sabemos e um epitáfio dos vikings,
pela música verbal da Inglaterra,
pela música verbal da Alemanha,
pelo ouro que reluz nos versos,
pelo épico Inverno,
pelo nome de um livro que não li: Gesta Dei per Francos,
por Verlaine, inocente como os pássaros,
pelo prisma de cristal e o peso de bronze,
pelas riscas do tigre,
pelas altas torres de S. Francisco e da ilha de Manhattan,
pela manhã no Texas,
por aquele sevilhano que redigiu a “Epístola Moral”e cujo nome, como ele teria preferido, ignoramos,
por Séneca e Lucano, de Córdova, que antes do espanhol escreveram toda a literatura espanhola,
pelo geométrico e bizarro xadrez,
pela tartaruga de Zenão e o mapa de Royce,
pelo odor medicinal dos eucaliptos,
pela linguagem, que pode simular a sabedoria,
pelo esquecimento, que anula ou modifica o passado,
pelo costume, que nos repete e confirma, como um espelho,
pela manhã, que nos depara a ilusão de um princípio,
pela noite, sua treva e sua astronomia,
pelo valor e a felicidade dos outros,
pela pátria, sentida nos jasmins ou numa velha espada,
por Whitman e Francisco de Assis, que já escreveram o poema,
pelo facto de que o poema é inesgotável e se confunde com a soma das criaturas e jamais chegará ao último verso e varia segundo os homens,
por Frances Haslam, que pediu perdão a seus filhos por morrer tão devagar,
pelos minutos que precedem o sonho,
pelo sonho e a morte, esses dois tesouros ocultos,
pelos íntimos dons que não enumero,
pela música, misteriosa forma do tempo.

18.5.09

Fim-de-semana com sabor autêntico



Deste Sexta sem posts...eis uma das razões: Ursula Rucker: poesia, batida e intimismo q.b. na sala 2 da Casa da Música (Fernando,obrigado pelo bilhete)...as outras estão documentadas no vídeo...e podiam ter sido gravadas entre a Casa da Música e a Queima de Vila Real.

Samba e Amor - Chico Buarque por Bebel Gilberto



Para ti, que estás de volta dos trópicos e com um postal...espero!

15.5.09

A Carta - Toranja...Apeteceu-me muito!



Não falei contigo
Com medo que os montes e vales que me achas
Caíssem a teus pés...
Acredito e entendo
Que a estabilidade lógica
De quem não quer explodir
Faça bem ao escudo que és...

Saudade é o ar
Que vou sugando e aceitando
Como fruto de Verão
Nos jardins do teu beijo...
Mas sinto que sabes que sentes também
Que num dia maior serás trapézio sem rede
A pairar sobre o mundo
Em tudo o que vejo...

É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é folha de papel
Nela te pinto nua, nua
Numa chama minha e tua.
Numa chama minha e tua

Desconfio que ainda não reparaste
Que o teu destino foi inventado
Por gira-discos estragados
Aos quais te vais moldando...
E todo o teu planeamento estratégico
De sincronização do coração
São leis como paredes e tectos
Cujos vidros vais pisando...

Anseio o dia em que acordares
Por cima de todos os teus números
Raízes quadradas de somas subtraídas
Sempre com a mesma solução...
Podias deixar de fazer da vida
Um ciclo vicioso
Harmonioso ao teu gesto mimado
E à palma da tua mão...

É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é folha de papel
Nela te pinto nua, nua
Numa chama minha e tua.
Numa chama minha e tua.

Desculpa se te fiz fogo e noite
Sem pedir autorização por escrito
Ao sindicato dos deuses...
Mas não fui eu que te escolhi.
Desculpa se te usei
Como refúgio dos meus sentidos
Pedaço de silêncios perdidos
Que voltei a encontrar em ti...

É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mago feiticeiro...

...nela te pinto nua, nua
Numa chama minha e tua.
Numa chama minha e tua.

Ainda magoas alguém
O tiro passou-me ao lado
Ainda magoas alguém...
Se não te deste a ninguém
Magoaste alguém
A mim... passou-me ao lado.
A mim... passou-me ao lado.

14.5.09

Intervenção Literária - O Estrangeiro, A. Camus

"Tomo o autocarro das duas horas e chego lá à tarde. Assim, posso passar a noite a velar e estou de volta amanhã à noite. Pedi dois dias de folga ao meu patrão e, com uma razão destas, ele não mos podia recusar. Mas não estava com um ar muito satisfeito. Cheguei mesmo a dizer-lhe: A culpa não é minha."

" Maria veio buscar-me à noite e perguntou-me se eu queria casar com ela. Respondi que tanto me fazia, mas que se ela de facto queria casar, estava bem. Quis saber se eu a amava. Respondi, como aliás respondera já uma vez, que isso nada queria dizer, mas que talvez a não amasse."

"À saída do tribunal e ao subir para o autocarro reconheci, durante breves instantes, o cheiro e o calor das tardes de Verão. Na obscuridade da minha prisão rolante reencontrei, um a um, no fundo do meu cansaço, todos os ruídos familiares de uma cidade que eu amava e de uma certa hora em que tantas vezes me sentira contente (...) Sim, era a hora em que, há muito, muito tempo, eu me sentia contente. O que então me aguardava era sempre um sono ligeiro e sem sonhos. E, no entanto, alguma coisa se modificara, pois, com a expectativa do dia seguinte, foi a minha cela que reencontrei enfim. Como se os caminhos familiares, traçados nas noites de Verão, pudessem conduzir tanto às prisões como aos sonos inocentes."

A primeira vez que li "O Estrangeiro" confesso que não fiquei deslumbrado, como todos aqueles que me empurraram para a sua leitura e outros ainda com quem falei acerca do livro. Achei o estilo demasiado simples, não achei a história, ou estória, especialmente viciante...enfim, não sou crítico literário, nem quero passar por entendido, para estar aqui a dizer se estamos perante uma obra de inegável valor e importância, mas a verdade é que não gostei por aí além. Depois de falar com uma amiga (Sandrinha ou D. Sandra, para os mais chegados) parti para uma nova leitura. A verdade é que gostei mais do livro, mas não gostei assim tanto, tem bons momentos mas a impressão inicial não se desvaneceu. Mas depois de muito reflectir (na verdade não reflecti assim tanto) a verdade é que cheguei a uma conclusão: não gostei do assim tanto do livro porque sou jurista! Explicitando: todas as pessoas com quem falei acabam o livro a pensar que Mersault foi condenado por ter ido ao cinema, por se envolver com uma mulher no dia a seguir ao enterro da mãe, mas não, ele foi condenado por ter cometido um homicídio sem razão aparente! Ele teve um julgamento justo, sabia do que era acusado e confessou, em suma, um processo nada Kafkiano em que se fez justiça. Mas a verdade é que, aqueles com quem falei, acham que ele foi injustiçado, que foi condenado não por ter assassinado o árabe mas por não ter chorado no funeral da mãe, por não saber ao certo a sua idade (pela referida ida ao cinema e envolvimento amoroso), puro engano, esses foram os argumentos que o Procurador do Ministério Público utilizou para conseguir a condenação, numa atitude muito contemporânea (condenável dirão uns), mas ele acabou por ser punido por ter lesado o bem jurídico mais sensível à luz do direito: a vida (de outrem). E talvez resida aqui o maior mérito de Camus: fazer com que Mersault passe de assassino a injustiçado!

12.5.09

Grande Festinha @ Pitch Club



SPACE DISCO! A proposta é simples e directa: Bons momentos em ambiente... espacial. Na década de 90 quase foi esmagado pelos emergentes Techno, House e afins, mas no início do novo milénio e, finalmente, com a reabilitação total e à escala global da herança musical dos fabulosos anos 80, o Space Disco está de volta e recomenda-se. A ficção científica, as visões futuristas da existência humana e o triunfo das máquinas ganham novamente expressão no imaginário colectivo e são levadas para as pistas de dança, através de linhas de baixo marcantes, autênticos devaneios dos sintetizadores e ainda alguns efeitos especiais. Mais do que ritmos fortes e físicos, a aposta são os ambientes envolventes, espaciais, esotéricos, quase psicadélicos que nascem e se impõem pelo carácter melodioso dos temas. Naturalmente, e porque este género vive das e para as pistas de dança, a parte rítmica é fundamental e marcante, constituindo-se como um permanente apelo à dança. Brilhante, brincalhão, colorido, enigmático, esotérico, intrincado é como o Space Disco se afirma. É como que se a gravidade desaparecesse e os corpos ficassem tão leves como as mentes e, então, corpo e mente partissem numa viagem pelo espaço sideral sem nunca saírem da pista de dança. Vale a pena experimentar.

DJ`s:
PILOOSKI Vem de França e já passou por Portugal algumas vezes, sempre com enorme sucesso. Fortemente influenciado pelo som da Motown dos anos 60, Pilooski (Cédric Marszewski de nascimento) tem ainda no seu ADN musical o pioneiro tecnho de Detroit e o house de Chicago. Como produtor, Pilooski, para além de autor de diversas remixes, integra a equipa responsável pelas D-i-r-t-y S-o-u-n-d S-y-s-t-e-m series, mundialmente divulgadas por nomes como Laurent Garnier, Simian, Tiga ou Yvan Smagghe. Tem ainda um projecto de Disco, denominado Discodeine. Pilooski é ainda o dj residente do Paris Social Club.

DISKJOKKE Diskjokke, alter-ego de Joachim Dyrdahl, é um dj-produtor Norueguês que tem assumido papel de destaque na cena das novas tendências da música de dança. Seguindo as pisadas de nomes como Lindstrom ou Prins Thomas, Diskjokke, violinista clássico de formação, abraçou a música electrónica de forma apaixonada, o que se reflecte nos álbuns já editados. Com novo disco quase pronto, no último ano Diskjokke actuou entre outros no Fabric de Londres, Loft, em Barcelona, tendo ainda feito digressões pela China, Estados Unidos e Austrália. Diskjokke refere que a sua música não tem fronteiras de estilos, sendo a única preocupação o apelo para a pista de dança.

11.5.09

Delicioso Porto com Donna Maria




Primeiro a serra semeada terra a terra
Nas vertentes da promessa
Nas vertentes da promessa
Depois o verde que se ganha ou que se perde
Quando a chuva cai depressa
Quando a chuva cai depressa

E nasce o fruto quantas vezes diminuto
Como as uvas da alegria
Como as uvas da alegria
E na vindima vão as cestas até cima
Com o pão de cada dia
Com o pão de cada dia

Suor do rosto pra pisar e ver o mosto
Nos lagares do bom caminho
Nos lagares do bom caminho
Assim cuidado faz-se o sonho e fermentado
Generoso como o vinho
Generoso como o vinho

E pelo rio vai dourado o nosso brio
Nos rabelos duma vida
Nos rabelos duma vida
E para o mundo vão garrafas cá do fundo
De uma gente envaidecida
De uma gente envaidecida

Vinho do Porto
Vinho de Portugal
E vai à nossa
À nossa beira mar
À beira Porto
À vinho Porto mar
Há-de haver Porto
Para o nosso mar

Vinho do Porto
Vinho de Portugal
E vai à nossa
À nossa beira mar
À beira Porto
À vinho Porto mar
Há-de haver Porto
Para o desconforto
Para o que anda torto
Neste navegar

Por isso há festa não há gente como esta
Quando a vida nos empresta uns foguetes de ilusão
Vem a fanfarra e os míudos, a algazarra
Vai-se o povo que se agarra pra passar a procissão
E são atletas, corredores de bicicletas
E palavras indiscretas na boca de algum rapaz
E as barracas mais os cortes nas casacas
Os conjuntos, as ressacas e outro brinde que se faz

Vinho do Porto vou servi-lo neste cálice
Alicerce da amizade em Portugal
É o conforto de um amor tomado aos tragos
Que trazemos por vontade em Portugal

Se nós quisermos entornar a pequenez
Se nós soubermos ser amigos desta vez
Não há champanhe que nos ganhe
Nem ninguém que nos apanhe
Porque o vinho é português

Carlos Paião

Festa e venha o Penta

7.5.09

Começo a achar que o Mourinho é um caso clínico




Afinem bens os ouvidos...e isto numa peladinha de descompressão,ou nem tanto!

Amanhã é dia de abraços...





Tratem de abraçar alguém, amigos, namoradas, desconhecidos...o que importa é partilhar o significado que tem abraçar alguém, estabelecer laços: GO HUG SOMEONE!

6.5.09

Cesária - Sodade




Cabo Verde não será o mesmo sem mim...não te esqueças do postal!

Poetry Rules ou Activismo Poético - Mário de Sá-Carneiro

Eu Não Sou Eu Nem Sou Outro

Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.