29.10.09
27.10.09
Valsinha - Chico Buarque
Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, p`ra seu grande espanto, convidou-a p`ra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz...
(Letra: Chico Buarque/Vinícius de Morais)
26.10.09
Arcas Encoiradas - Aquilino Ribeiro, subsídio tardio para Saramago
"Costeávamos a ermidinha de S. José, em que os Cletos do Jardim das Tormentas contraíram cadeia celular pelo inqualificável feito que perpetraram de forçar a caixa das almas, um Inverno que tinham fome. Ali acumulavam os devotos o peculiozinho com que os senhores padres haviam de refrigerar as almas do Purgatório a troco de umas tantas missas e responsos. Os Cletos partiram do princípio, evidentemente erróneo, de que os mealheiros sagrados, a socorrer por socorrer, deviam começar por socorrê-los a eles no purgatório da negra vida, e pagaram caro a tonteira de infringir a lei de Deus e dos homens."
23.10.09
22.10.09
Poetry Rules - Mia Couto
POEMA DA DESPEDIDA
Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer
Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser
Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos
Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo
Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer
Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser
Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos
Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo
21.10.09
20.10.09
18.10.09
Poetry Rules - Xavier
A Saudade Não É Apenas Uma Palavra
Este quarto faz-me mal. Estás aqui,
E aqui a saudade deixa de ser apenas uma palavra.
A tua fotografia já não está na parede.
Mas continua a enchê-la,
E a lembrar-me que a saudade não é apenas uma palavra.
Sou uma criança em ruínas, como a criança do livro daquele poeta,
Ou como o próprio poeta,
Mas eu sou real, e as ruínas também.
Sinto que posso desfazer-me a qualquer momento, e choro,
Mas não por isso.
Lembro com saudade
Os tempos em que a saudade era apenas uma palavra,
Doces,
Como lembro as vezes que escrevi a palavra saudade,
Sem saber que não estava a escrever apenas uma palavra.
16 V 2009
Este quarto faz-me mal. Estás aqui,
E aqui a saudade deixa de ser apenas uma palavra.
A tua fotografia já não está na parede.
Mas continua a enchê-la,
E a lembrar-me que a saudade não é apenas uma palavra.
Sou uma criança em ruínas, como a criança do livro daquele poeta,
Ou como o próprio poeta,
Mas eu sou real, e as ruínas também.
Sinto que posso desfazer-me a qualquer momento, e choro,
Mas não por isso.
Lembro com saudade
Os tempos em que a saudade era apenas uma palavra,
Doces,
Como lembro as vezes que escrevi a palavra saudade,
Sem saber que não estava a escrever apenas uma palavra.
16 V 2009
17.10.09
15.10.09
Poetry Rules - Pablo Neruda
XVII
Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.
Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.
Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,
a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com o meu sono.
(Cem Sonetos de Amor)
Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.
Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.
Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,
a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com o meu sono.
(Cem Sonetos de Amor)
13.10.09
Eu sei que vou te amar...
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida
O Clássico de Tom & Vinícius com nova roupagem e que roupagem...
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10.10.09
Poetry Rules- Valter Hugo Mãe
trago-te a morte
trago-te a morte. obrigo que
te deites no chão esquecida do
corpo e me acompanhes sem
reservas, sem mais nada, em breve
estarás na eternidade, marcada por
cada lembrança mas deixando crescer
sobre ti a meticulosa vastidão do
tempo que vai, apenas por crueldade,
preservar-te infimamente a sensação
de viver. assim é a morte
trago-te a morte. obrigo que
te deites no chão esquecida do
corpo e me acompanhes sem
reservas, sem mais nada, em breve
estarás na eternidade, marcada por
cada lembrança mas deixando crescer
sobre ti a meticulosa vastidão do
tempo que vai, apenas por crueldade,
preservar-te infimamente a sensação
de viver. assim é a morte
9.10.09
8.10.09
Poetry Rules - Nuno Júdice
Um Outro Poema de Amor
No fundo, as relações entre mim e ti
cabem na palma da mão:
onde o teu corpo se esconde e
de onde,
quando sopro por entre os dedos,
foge como fumo
um pequeno pássaro,
ou um simples segredo
que guardávamos para a noite.
(O Movimento do Mundo)
No fundo, as relações entre mim e ti
cabem na palma da mão:
onde o teu corpo se esconde e
de onde,
quando sopro por entre os dedos,
foge como fumo
um pequeno pássaro,
ou um simples segredo
que guardávamos para a noite.
(O Movimento do Mundo)
7.10.09
Esta Mujer Me Pone Los Pelos de Punta...
Olha Maria - Joana Machado (com Bernardo Sassetti)
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6.10.09
A Leveza ou o Peso?
Se cada segundo das nossas vidas se repete infinitas vezes, somos pregados à eternidade como Jesus Cristo à cruz. É uma perspectiva aterrorizante. No mundo do eterno retorno, o peso da responsabilidade insuportável recai sobre cada movimento que fazemos. É por isso que Nietzsche chamou à ideia do eterno retorno o mais pesado dos fardos (das Schwerste Gewicht).
Se o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, então as nossas vidas contrapõem-se a ele em toda a sua esplêndida leveza.
Mas será o peso de facto deplorável, e esplêndida a leveza?
O mais pesado dos fardos nos esmaga; sob seu peso, afundamos, somos pregados ao chão. E, no entanto, na poesia amorosa de todas as épocas, a mulher anseia por sucumbir ao peso do corpo do homem. O mais pesado dos fardos é, pois, simultaneamente, uma imagem da mais intensa plenitude da vida. Quanto mais pesado o fardo, mais nossas vidas se aproximam da terra, tornando-se mais reais e verdadeiras.
Parmênides levantou essa mesma questão no sexto século antes de Cristo. Ele via o mundo dividido em pares opostos: luz/escuridão, fineza/rudeza, calor/frio, ser/não-ser. A uma metade da oposição, chamou positiva (luz, fineza, calor, ser); à outra, negativa. Nós poderíamos achar essa divisão em um pólo positivo e outro negativo infantilmente simples, não fosse por uma dificuldade: qual é o positivo, o peso ou a leveza?
A insustentável leveza do ser, Milan Kundera
2.10.09
Poetry Rules - Ricardo Reis
A Flor Que És Não A Que Dás Eu Quero
A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço.
Tempo há para negares
Depois de teres dado.
Flor, sê-me flor! Se te colher avaro
A mão da infausta esfinge, tu perene
Sombra errarás absurda,
Buscando o que não deste.
A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço.
Tempo há para negares
Depois de teres dado.
Flor, sê-me flor! Se te colher avaro
A mão da infausta esfinge, tu perene
Sombra errarás absurda,
Buscando o que não deste.
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