30.12.09

Poetry Rules - Hal Sirowitz

DECLARAÇÃO

Se o John F. Kennedy consegue levar a sua mãe
à inauguração, disse a mãe, & não se sente
envergonhado quando ela põe o braço à sua volta,
então porque é que tu não queres ser visto
comigo na rua? Ele é o Chefe Máximo
de todo o país, & tu nem sequer mandas
no teu quarto. Tenho de ser eu a limpá-lo por ti.
Nunca ouvi ninguém a chamar-lhe maricas
por andar com a mãe, & mesmo se
alguém chamasse, isso não o incomodava, porque
ele sabe que não é verdade. Nunca me mandaste
embora quando eu te estava a mudar as fraldas.
As mães são o grupo mais injustiçado do país.
Assim que os filhos se tornam suficientemente crescidos,
fingem que já não nos conhecem.


22.12.09

Poetry Rules - valter hugo mãe

a máquina de fazer espanhóis

uma máquina que transformasse portugueses em
espanhóis, impecável, infalível, perfeita, eles
entrando por um lado pálidos e mirrados, saindo
do outro corados, estendidos de narizes proeminentes e
orgulho. uma máquina que fosse tão esperta que,
no momento de decidir cada coisa, preterisse sempre
portugal e trouxesse ao de cima o esplendor do país
vizinho. era pegar nessa máquina, saber quem a inventou
e fazer-lhe amor pelo cu até que desfalecesse extenuado.
enviar relatório detalhado para todo o mundo, alardiar
entusiasticamente a satisfação de quem, nem que seja
por casmurrice, espera por sebastião

(valter hugo mãe, in "pornografia erudita")

15.12.09

Poetry Rules - António Lobo Antunes

Ana

O mar não é tão fundo que me tire a vida
nem há tão larga rua que me leve a morte
sabe-me a boca ao sal da despedida
meu lenço de gaivota ao vento norte

meus lábios de água meu limão de amor
meu corpo de pinhal à ventania
meu cedro à lua minha acácia em flor
minha laranja a arder na noite fria.

(Este e outros poemas do autor@Eu que me comovo por tudo e por nada, álbum de 1992-Vitorino)

8.12.09

Re-Sentir...

Retratos - A manhã seguinte

E o esquecimento, donde vem? e a escova de dentes que não é minha e assalta a minha mão, e outra vez aquela pergunta em frente ao espelho que se vai cristalizando em imagens mais ao menos desorganizadas, e o álcool a escapar-se-me pelos poros e a cada respiração, e ainda assim não o suficiente, como tudo me tem escapado um pouco na vida, e aquela voz estranha, que não vem de dentro de mim mas de algo mais profundo, é real e vem do quarto ao lado, e o telemóvel que toca e naquele momento tudo soa a estranho, como se tudo fosse um sonho e o sonho não pudesse ser a vida, é o despertador dizes, e a cabeça a explodir em constantes assomos de culpa, ai os excessos ouço-te, e não te quero ainda, que seria de mim sem os excessos, e a culpa a adensar-se num abraço, estranho também, mas quente, e naquele momento podia sentir a tua alma, e não era um abraço já, mais um beijo, ou uma linguagem secreta, talvez aquele filme, e não me lembro do nome ainda, que me fez esconder as lágrimas, que eram também para ti, que não és a mesma. E ainda assim olho-me, mas vejo-me desabitado, nem vazio, mas tu pareces gostar tanto de mim assim que quase acredito que é possível gostar-se de alguém assim, só me queres preencher, deve ser por te querer preencher dizes antes de eu o ter dito, e não vou fazer nada hoje, está decidido, esta ressaca pesa tanto como a vida, ou mais, mas doí menos, estes espasmos de dor a lembrarem que também a felicidade é etérea, como este verão, ou como eu em frente à porta aberta da casa-de-banho, a ver-te sair posta nessas cuequinhas, e só a pensar que tu talvez pudesses ser outra, ou pelo menos que eu poderia ser outro, e tu a dizeres que não, que não podia ser diferente, como se me tivesses ouvido, porque há essa coisa a que ousam chamar destino, esse deus castigador, um deus das pequenas coisas, não sejas parvinho dizes, já com o vestidinho que apanhaste aos pés da cama, onde fez amor a noite inteira, vais ficar o dia todo na cama? e a noite, se não o puder evitar, e na verdade a manhã seguinte custa-me tanto que abdicaria da vida para ficar para aí deitado, e para evitar esta conversa, e esta manhã, e sabes que sei que sabes, merda isto soa a uma canção qualquer, ou talvez não, que gosto de dormir sozinho, tens medo que os sonhos se misturem? não com a vida, mas o meu com o teu, mas não quando estou assim tão frágil, ressacado queres dizer, e não houve risos, não quando preciso que me deites com as tuas palavras doces, como se aconchega um filho, por isso este beijo da manhã, seguido das tuas queixas ao álcool que ainda aquece o meu hálito e o meu viver.

18 VIII 2009

Por Xavier Carlos

4.12.09

Poetry Rules - José Luís Peixoto

todo o amor do mundo não foi suficiente

todo o amor do mundo não foi suficiente porque o amor não serve de nada. ficaram só os papéis e a tristeza, ficou só a amargura e a cinza dos cigarros e da morte. os domingos e as noites que passámos a fazer planos não foram suficientes e foram demasiados porque hoje são como sangue no teu rosto, são como lágrimas. sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em cada instante, em cada hora, não irei negar isso. não irei negar nunca que te amei. nem mesmo quando estiver deitado, nu, sobre os lençóis de outra e ela me obrigar a dizer que a amo antes de a foder.

2.12.09

Mister Richie Havens - Freedom



Freedom[ou o verdadeiro espírito Woodstock 69]

Freedom
Freedom
Freedom
Freedom
Freedom
Freedom
Freedom
Freedom

Sometimes I feel like a motherless child
Sometimes I feel like a motherless child
Sometimes I feel like a motherless child
A long way from my home

Freedom
Freedom
Freedom
Freedom
Freedom
Freedom
Freedom
Freedom
Freedom
Freedom

Sometimes I feel like I'm almost gone
Sometimes I feel like I'm almost gone
Sometimes I feel like I'm almost gone
A long, long, long, way, way from my home

Clap your hands
Clap your hands
Clap your hands
Clap your hands
Clap your hands
Clap your hands
Clap your hands
Clap your hands
Hey…yeah

I got a telephone in my bosom
And I can call him up from my heart
I got a telephone in my bosom
And I can call him up from my heart

When I need my brother…brother
When I need my mother…mother
Hey…yeah…