29.4.09

Activismo poético - Adélia Prado

Casamento

Há mulheres que dizem:

Meu marido, se quiser pescar, pesque,


mas que limpe os peixes.


Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,


ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.


É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,


de vez em quando os cotovelos se esbarram,


ele fala coisas como "este foi difícil"


"prateou no ar dando rabanadas"


e faz o gesto com a mão.


O silêncio de quando nos vimos a primeira vez


atravessa a cozinha como um rio profundo.


Por fim, os peixes na travessa,


vamos dormir.


Coisas prateadas espocam:


somos noivo e noiva.


(Adélia Prado - Poesia Reunida)


Submissão ou Amor? Subjugação ou Partilha? Servidão ou Companheirismo? Intimismo?Tudo dependerá, acho, da circunstância de nos metermos dentro do poema...aí não tenho dúvidas que estaremos perante o mais profundo dos amores.


27.4.09

Definitivamente, o Público já não é o que era...

Minuto 58 do FC Porto-Vitória de Setúbal. De uma assentada, Leandro Lima e Bruno Gama foram substituídos por dois colegas de equipa. Coincidência ou não, Leandro Lima e Bruno Gama, jogadores emprestados pelo FC Porto ao Setúbal, estavam a ser os dois jogadores mais perigosos dos sadinos.
Coincidência ou não, o jogo que estava empatado ganhou outra vida quatro minutos depois com o primeiro de dois golos de Lisandro (2-0). O tiro no pé de Carlos Cardoso deu uma segunda vida ao campeão nacional.
Alguém quer explicar a substituição?
Pontaria de Carlos Cardoso, que na véspera até vaticinara uma “gracinha”? Sorte de Jesualdo Ferreira, que via o placard a andar para trás?
“Com a saída dos dois jogadores, o FC Porto passou a ter mais espaço e mais linhas”, respondeu Jesualdo.
“Já não atacavam com a mesma intensidade”, justificou Carlos Cardoso.

Fonte : Jornal Publico

Anselmo Borges - Abril, 35 Anos Depois

Para a abertura da exposição "Abril, ânimos mil", na Galeria da Associação 25 de Abril, em Lisboa, António Colaço desafiou-me para um intróito: "De que falamos, quando falamos de ânimo?"

1. A identidade humana é narrativa. Mas a história narrada de cada um(a) é sempre incomensuravelmente incompleta, pois seria preciso narrar a história do universo todo, donde vimos e onde somos, até ao big bang - a grande explosão. O universo é dinamismo, que se vai configurando em estruturas cada vez mais complexas, numa história com 13.700 milhões de anos e aberta.

De que falamos, quando falamos de ânimo? Deste dinamismo cósmico que se autoconfigura, da cosmogénese, da biogénese, da hominização. Deste dinamismo em luxo e luxúria, presente em milhares de milhões de galáxias e em expansão.

2. A estrutura mais complexa que conhecemos é o Homem. De que falamos, quando falamos de ânimo? Do Homem, no dinamismo da liberdade, com duas possibilidades: liberdade criadora e liberdade destruidora. O dinamismo do mundo, agora consciente e livre, na e pela relação, constrói; curvado sobre si mesmo, devora-se e destrói.

3. De que falamos, quando falamos de ânimo? Do amor cósmico, esse amor que tudo move, como disse Dante. É também esse amor - energia e dinamismo - que une a história dos povos. Por causa da liberdade, também eles criam e dinamizam ou oprimem e destroem.

De que falamos, quando falamos de ânimo? Também falamos da Revolução dos Cravos, de Abril. Foi o júbilo do "dia inicial inteiro e limpo", sob o desígnio de democratizar, descolonizar, desenvolver.

E assim se fez, mesmo se a descolonização foi inevitavelmente dramática, a democratização feita aos solavancos, o desenvolvimento, pouco e sobretudo pouco racional. Mas o que éramos e o que somos!... Não há nada que pague a liberdade, a democracia, recuo do analfabetismo, fraternidade de povos, igualdade de homens e mulheres. É disso que falamos, quando falamos de ânimo.

3. Mas, hoje, é como se vivêssemos (ou vivemos mesmo?) numa democracia deprimida, quase impotente, sem ânimo. Que se passou?

Ele foi a sofreguidão do ter sobre o ser, na ganância louca do consumo de teres, na perda de valores fundamentais, da honra, da dignidade e do espírito. Continua vivo o individualismo dos portugueses: não conseguimos interiorizar que o que é bom para Portugal é bom para mim. A situação do ensino não é felicitante. Ah!, aquela abertura apressada e sem critério de Universidades, para ganhar eleições! O fosso entre os muito ricos e os muitos pobres é cada vez mais fundo e parece que o maior da União. A corrupção campeia. Quem acredita ainda no sistema judicial? E os jovens desinteressam-se pela política, como que para evitar um lugar mal frequentado. Que Abril foi esse que, passados 35 anos, ainda permite 2 milhões de pobres? E quem sabe o que vem aí?

Ainda é de ânimo que falamos, quando o que nos visita é o desânimo? Sim, é ainda de ânimo, se o desânimo se tornar força dialéctica para a sua autosuperação.

5. O que aqui nos trouxe foi a arte. Sem beleza, não há salvação. O artista imita a natureza: não a natureza naturada, mas a natureza naturante, o dinamismo e o ânimo que habitam o universo enquanto força criadora originária. O artista é, por isso, génio: gera beleza a partir da fonte dinâmica do mundo e anima a esperança.

O mundo não é estático: está em processo e é processo. As suas possibilidades ainda se não esgotaram, e essa é a razão por que o ânimo não é apenas psicológico, mas ontológico, da ordem do ser. O processo do mundo ainda não transitou em julgado. Abril também não. Caídas as máscaras, poderemos reencontrar o ânimo daquela manhã primeira. Se foi possível no passado, porque não há- -de sê-lo no presente e para o futuro?

A beleza abre ao futuro e à Transcendência e é promessa de ânimo, mesmo quando faz falar a arma da crítica e da sátira político-social. É disso que falamos, quando falamos de ânimo.

Porque é Segunda-Feira, espaço às mulheres

Citação Feminina do dia:
Os homens são como os pavimentos: Se os montarmos bem... podemos pisá-los durante 30 anos!!

Uma Freira velha pediu para escreverem na campa:
"Nasci virgem, Vivi virgem, Morri Virgem."
O cangalheiro achou que eram muitas palavras e escreveu:
"Devolvida sem ser comida!"

"Papa condena o segundo casamento..."
(porque é solteiro... se fosse casado condenaria o primeiro também!)

Uma velhota, durante a missa, inclina-se e diz ao ouvido do seu marido:
-Acabo de soltar um peido silencioso. Que achas que deva fazer?
Responde o velho:
- Agora nada. Mas quando sairmos, vamos comprar pilhas novas para o teu aparelho auditivo...

Pensamento 1:
"Os Homens são como o vinho: todos começam como uvas. Cabe às mulheres amassá-los, pisá-los e enclausurá-los até que amadureçam!"

Pensamento 2:
"As Mulheres também são como o vinho: com o passar dos anos umas refinam o sabor, outras azedam. As que azedam é por falta de uma boa rolha..."
- Autor desconhecido (mas não parvo) -

(via e-mail, obrigado Freitas, isto é que é cultura)

24.4.09

Smells Like Trip-Hop Spirit



Retirada do álbum Blowback, absolutamente sublime esta A Song For Yukiko...sem vídeo, mas imperdível.

23.4.09

Está explicada a alegria dos ingleses...



É verdade, uns foram para casa mais alegres do que outros...Está explicado, pelo menos, o sorriso rasgado de Giggs.

Foto, gentilmente, usurpada do http://www.vilarealsport.com/

Ler é preciso, viver não é preciso!



Por decisão da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), celebra-se hoje, e desde 1996, o Dia Mundial do Livro (e dos Direitos de Autor). O dia 23 de Abril, dia de São Jorge, foi escolhido para homenagear uma velha tradição Catalã: neste dia, os cavalheiros oferecem uma rosa vermelha de São Jorge (Saint Jordi) às suas damas e recebem delas um livro. Presta-se ainda tributo à obra de grandes escritores, como Shakespeare e Cervantes, falecidos exactamente a 23 de Abril (de 1616).

Já sabem: Livros e Flores...Livros e Flores

21.4.09

Resistência Cultural


Trova do Vento que Passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz. 

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas. 

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz. 

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país. 

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão. 

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados. 

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo. 

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar. 

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas). 

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome. 

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste. 

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo. 

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz. 

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa. 

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre
Porque "há sempre alguém que resiste"...

20.4.09

Activismo poético - Eugénio de Andrade

As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam,
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparados, inocentes,
e leves.
Tecidas são de luz,
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escutas? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

(Coração do Dia)

Porque também eu "Creio que foi o sorriso, o sorriso foi quem abriu a porta"... E creio também que precisamos das palavras, as palavras são sentimento...E embora seja verdade: "palavras qualquer um as diz", certas palavras não podem ser ditas por qualquer um...

16.4.09

Porque alguém escreveu o que sinto...

Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos,
Silenciem os pianos e com os tambores em surdina
Tragam o féretro, deixem vir o cortejo fúnebre.

Que os aviões voem sobre nós lamentando,
Escrevinhando no céu a mensagem: Ele está morto,
Ponham laços de crepe em volta dos pescoços das pombas da cidade,
Que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão.

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,
A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo,
O meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção;
Pensei que o amor ia durar para sempre, mas enganei-me.

Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas;
Emalem a lua e desmantelem o Sol;
Despejem o oceano e varram o bosque;
Pois agora tudo é inútil.

W.H. Hauden
( tradução por Maria de Lurdes Guimarães)

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CR7 Salvou Época...benfiquista



É bem verdade, com o golo (inacreditável) de ontem há noite C. Ronaldo salvou a época benfiquista. Com efeito, lá para os lados da Catedral tudo foi esquecido: Quique, a miserável equipa de futebol, o destemperado ministro (tal como o iraquiano) da informação ou comunicação e até as sucessivas promessas e trapalhadas do khadafi dos pneus...Melhor para nós, muito melhor!
Quanto ao jogo de ontem pouco há a dizer, ganhou o man utd. C. Ronaldo, que na selecção até me faz ter saudades do Pauleta (!!!), lembrou-se de soltar um míssil quase do meio-campo.
Quanto aos nossos, Obrigado, Muito Obrigado por nos ter feito sonhar....

14.4.09

Os Operários do Sonho



I Have a Dream...

Poetry Rules ou Activismo Poético - Eugénio de Andrade

Espera

Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.

Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.

(As mãos e os frutos)

9.4.09

Koop Island Blues



Vai ser um belo regresso a casa...

This is England



Para verem o que eu sofri na pele...o verdadeiro English life style! E escolheram as imagens softcore, posso garantir...Mas Inglaterra é uma experiência única, para repetir sempre. Gracias à menina Maria pelo video (directamente dos Vales).

8.4.09

Ruptura de stock...



É com grande pesar que o The Royal Junk Club anuncia: devido à desenfreada corrida às farmácias, directamente relacionada com certos eventos que se passaram nas longínquas terras de sua majestade, e apesar do reforço de stock, o medicamento rennie já não se encontra disponível para venda. Temos pena, sinceramente, Sr. Ricardo Costa mas vai ter de se aguentar! Quanto a si Sr. Platini, fique descansado que em França os stocks estão intactos...

Graças a Deus nasci Portista!



Uma época que começa assim está, à partida, destinada a viver momentos únicos. O empate foi claramente lisonjeiro para os de old trafford, mas o que marca mesmo é ver uma equipa solidária, personalizada, poderosa a reagir daquela forma à situação de desvantagem.



Continuo a dizer (o que já me valeu fortes repreensões, e um shot para me calar, no Convívio Bar), Jesualdo Ferreira é o "homem certo no lugar certo". Exímio a preparar os jogos, conhecedor e extremoso na aplicação das novas metodologias (o Porto foi das primeiras equipas de topo a defender à zona nas bolas paradas) e mto hábil a trabalhar jovens promissores. Também tem os seus defeitos e apostas criticáveis ( eu critico a aposta em Mariano, mas por estes dias tenho que me calar), mas tem sempre conseguido atingir os seus objectivos.

Na imagem Jesualdo parece estar a dizer: "Cuidado, não te vás engasgar com a pastilha como em 2004!".

7.4.09

Inacreditável...genialmente néscia

Kafka à beira-mar


Kafka à beira-mar é uma verdadeira metáfora da vida! Mas da vida como ela se apresenta, a vida na sua plenitude: trágica e doce, asfixiante mas esperançosa, sonho e drama, transcendência, o inesperado real e o irreal inesperado, ou talvez não, mas sempre mágico. Murakami é droga...e das mais viciantes!

3.4.09

Shii: a wii para meninas de fino trato



Ou "o que tu queres sei eu!"

Poetry Rules ou Activismo Poético - Pessoa



Caeiro

Gosto do ceu porque não creio que elle seja infinito.
Que pode ter comigo o que não começa nem acaba?
Não creio no infinito, não creio na eternidade.
Creio que o espaço começa numa parte e numa parte acaba
E agora e antes d`isso ha absolutamente nada.
Creio que o tempo tem um princicio e tem um fim,
E que antes e depois d`isso não havia tempo.
Porque ha de ser isto falso? Falso é fallar de infinitos
Como se soubessemos o que são de os podermos entender.
Não: tudo é uma quantidade de cousas.
Tudo é definido, tudo é limitado, tudo é cousas.

Fernando Pessoa
[Poema inédito, atribuído ao heterónimo Alberto Caeiro, transcrito por Jerónimo Pizarro]

2.4.09

"Revolto-me, logo existo"...

Apito Encarnado, já! Ricardo Costa assina vitaliciamente!


De acordo com as nossas fontes, o Excelentíssimo Sr. Presidente da Comissão Disciplinar acaba de rubricar um contrato vitalício com o benfica. O novo reforço, apresentado dias depois da outra grande contratação da época (Lucílio, que já garantiu 1 troféu), já começou a justificar o contrato, castigando Lisandro Lopez por pretensa simulação! Rui Costa encontrou finalmente um substituto!

1.4.09

Rodrigo Leão - Rosa ou a elegância sublime...

Activismo intemporâneo




" Com um governo que prende alguém injustamente, o lugar do homem justo é na prisão".

"Nunca a lei tornou um homem mais justo; é por causa do respeito pela lei que alguns bem-intencionados se tornam todos os dias agentes da injustiça".

Este livro será sempre a "bíblia", o manual dos "não-alinhados" , a estrela guia para todos aqueles que "têm consciência das injustiças a que estão sujeitas as minorias, num tempo em que os cidadãos são incitados a prestar culto ao dinheiro, porque o Estado sabe, como Thoreau denuncia, que o dinheiro silencia muitas perguntas que o homem de outro modo seria obrigado a fazer. Martin Luther King leu e releu "A Desobediência Civil" e nela aprendeu a estratégia da não-violência; Gandhi trazia sempre um exemplar na bagagem e leu outros ensaios do autor; Tolstoi aprendeu também em Thoreau a desobedecer e a organizar a resistência ao poder. O segundo texto de Thoreau, sobre John Brown, é límpido, torrencial, violento, mas profundamente humano e poético. A revolta é nele a consequência lógica dum desejo de harmonia".


Crise...



Um planeta chamado crise, um proteccionismo interior que se recusa, verbos vazios, a busca incessante, a inexorabilidade do tempo, o devir enquanto estado intermitente, o fado que nos esmaga, uma saudade que se arrasta, o nada a traços de tinta permanente, a verdadeira crise...a do homem enquanto pessoa.

Engordar mostrando a cultura da street!


Após o "duplo" lançamento, já está nas bancas o número 1 da freestyle...tirar o underground do fundo?