30.6.09

Salvar é uma grande palavra. E amor é uma palavra ainda maior. Grandes palavras escondem grandes enganos.



"A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores.”

“- Somos iguais aos outros (…). – Os outros é que não são iguais a nós.”

“O problema da solidão é que não temos ninguém a quem mentir.”

“A gente ama alguém que desconhece, casa com quem conhece e vive com uma pessoa irreconhecível. Às vezes, temos luas-de-mel, outras vezes, luas melosas. A maior parte do tempo, porém, são noites sem luar nenhum.”

“A viagem termina quando encerramos as fronteiras interiores. Regressamos a nós, não a um lugar.”

“Salvar é uma grande palavra. E amor é uma palavra ainda maior. Grandes palavras escondem grandes enganos.”

O Outro Pé da Sereia - Mia Couto

28.6.09

Robin Thicke - Lost Without U



I'm lost without you
Can't help myself
How does it feel?
To know that I love ya baby
I'm lost without you
Can't help myself
How does it feel?
To know that I love ya baby

Tell me how you love me more
And how you think I'm sexy baby
But you don't want nobody else
You don't want this guy
You don't want that guy
You wanna touch yourself when you see me
Tell me how you love my body
And how I make you feel baby
You wanna roll with me
You wanna to hold with me
You wanna stay warm and get out of the cold with me
I just love to hear you say it
It makes a man feel good baby
Tell me you depend on me
I need to hear it

I'm lost without you
Can't help myself
How does it feel?
To know that I love ya baby
I'm lost without you
Can't help myself
How does it feel?
To know that I love ya baby

Baby your the perfect shape
Baby your the perfect weight

Treat me like my birthday
I want it this way
I want it that way
I want it, Tell me you don't want me to stop
Tell me it would break your heart
But you love me and all my dirty
You wanna roll with me
You wanna to hold with me
You want to make fires and get Norwegian wood with me
I just love to hear you say it
It makes a man feel good baby

I'm lost without you
Can't help myself
How does it feel?
To know that I love ya baby
I'm lost without you
Can't help myself
How does it feel?
To know that I love ya baby

Cause you will tell me every morning
Oooohhh all right baby
Ooooh yeah
Oh baby
Oh darlin
All right right

I'm lost without you!
Can't help myself
How does it feel?
To know that I love you baby
I'm lost without you
Can't help myself
How does it feel?
To know that I love yoou baby!

Ooh yeah
Oh baby
Oh darlin'
All right right
Oh baby
Oh darlin'
Ooh ooh baby
All right right... yeah.

21.6.09

Poetry Rules - Jorge de Sena

Génesis

De mim não falo mais :não quero nada.
De Deus não falo:não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.

Nem de existir,que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver,que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.

Por mais justiça ...Ai quantos que eram novos
em vâo a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade...Ó transfusâo dos povos!

Não há verdade:O mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais,todos mentiram.

16.6.09

O Pior Emprego do Mundo



Diz-se por aí que é o pior emprego do mundo (não há sindicatos,não há horários...). Eu cá tenho as minhas dúvidas.

Poetry Rules - Rui Polónio Sampaio

Soneto quase mudo

Há o silêncio, às vezes, entre nós,
e é um silêncio denso, ou uma fala
críptica, uma linguagem que abdica
do som, para ser só a voz da alma…

Há súbitas catarses de palavras
em torrentes, cachoeiras de espuma
efervescente, ou talvez a timidez
dos gestos reprimidos ou represos.

Há os olhos que dizem sem dizer,
há o fluido subtil de quem se entende
mais longe do que a vida nos permite.

E há a confiança, na ausência,
há segredos sabidos sem saber,
manhãs comuns em cada amanhecer.

7.6.09

Em vias de extinção...



Corre que faltam homens honestos...serão estes os últimos exemplares...e afinal: honestidade para que te quero?

5.6.09

Isto que escreves é o quê?



"e o relógio de parede que só ele ouve, com todas as horas da sua vida lá dentro, as insignificantes, as grandes, um barco a afastar-se? Será isso acabar, um barco que se afasta, uma senhora a dizer adeus com um lenço, por detrás do lenço um sorriso e por detrás do sorriso ninguém, nem o que pensamos ser a nossa sombra? O lugar onde o Mondego nasce, num fiozinho, entre pedras e o sol no fiozinho e a tua sombra lá dentro? Isto que escreves é o quê?"

( O que vêem os olhos quando já não podem ver - A. Lobo Antunes, Visão 848)

2.6.09

Poetry Rules - José Luís Peixoto

um dia quando a ternura for a única regra da manhã

um dia, quando a ternura for a única regra da manhã,
acordarei entre os teus braços. a tua pele será talvez demasiado bela.
e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.
um dia, quando a chuva secar na memória, quando o inverno for
tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada
de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da
nossa janela. sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso
será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi
nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar
a perfeição da felicidade.

(A Criança em Ruínas)

1.6.09

Diz que é uma espécie de Dia Mundial da Criança



O Menino Que Fazia Versos


- Ele escreve versos!

Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de montanha.

- Há antecedentes na família ?

- Desculpe, doutor ?

O médico destrocou-se por tintins, Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava-a bem, nunca lhe batera mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias:

- Serafina, você hoje cheira a óleo Castrol.

Ela hoje até se comove com a comparação. Sim, perfume de igual qualidade qual outra mulher pode sequer sonhar ? Pobres que fossem os dias, para ela, tinham sido lua-de-mel. Para ele, período de rodagem. O filho fora confeccionado nesses namoros de unha suja, restos de combustível manchando o lençol. E oleosas confissões de amor.

Tudo corria sem mais, a oficina mal dava para o pão e a escola do miúdo. Mas eis que começam a aparecer, pelos recantos da casa, papeis rabiscados com versos. O filho confessou, sem pestanejo, a autoria do feito.

- São meus versos, sim.

O pai logo sentenciara: havia que tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios, más companhias. Pois o rapaz, em vez de se lançar no esfrega-refrega com as meninas se acabrunhava nas penumbras e, pior ainda, escrevia versos. O que se passava: mariquice intelectual ? Ou carburador entupido, avarias dessas que a vida do homem se queda em ponto morto ?

Dona Serafina defendeu o filho e os estudos. O pai, conformado, exigiu: então, ele que fosse examinado.

- O médico que faça revisão geral, parte mecânica, parte eléctrica.

Queria tudo. Que se afinasse o sangue, calibrasse os pulmões, e sobretudo lhe espreitassem o nível do óleo na figadeira. Houvesse que pagar por sobressalentes, não importava. O que urgia era por cobro àquela vergonha familiar.

Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita para poupança de tempo. Com enfado, o clínico se dirigiu ao menino:

- Dói-te alguma coisa ?

- Dói-me a vida, doutor.

O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera. Já Dona Serafina aproveitava o momento: está a ver, doutor ? Está ver ? O médico voltou a erguer o olhos e a enfrentar o miúdo:

- E o que fazes quando te assaltam essas dores ?

- O que melhor sei fazer, excelência, é sonhar.

Serafina voltou à carga e sapateou a nuca do filho. Não lembrava o que pai lhe dissera sobre os sonhos ? Que fosse sonhar longe ! Mas o filho reagiu: longe, porquê ? Perto, o sonho aleijaria alguém ? O pai teria, sim, receio de sonho. E riu-se, acarinhando o braço da mãe.

O médico estranhou o riso. Custava a crer, visto a idade. Mas o moço, voz tímida, foi-se anunciando. Que ele, modéstia apartada, já inventara sonhos desses que já nem há, só no antigamente, coisa de bradar à terra. Exemplificaria, para melhor crença. Mas nem chegou a começar. O doutor o interrompeu:

- Não tenho tempo, moço, isto aqui não é nenhuma clínica psiquiátrica.

A mãe, em desespero, pediu clemência. O doutor que desse ao menos uma vista de olhos pelo caderninho dos versos. A ver se ali catava o motivo de tão grave distúrbio. Contrafeito, o médico aceitou e guardou o manuscrito na gaveta. A mãe que viesse na próxima semana. E trouxesse o paciente.

Na semana seguinte foram os últimos a serem atendidos. O médico, sisudo, taciturneou: o miúdo não teria, por acaso, mais versos ? O menino não entendeu.

- Não continuas a escrever ?

- Isto que faço não é escrever, doutor. Estou, sim, a viver. Tenho esse pedaço de vida - disse, apontando um novo caderninho - quase a meio.

O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave do que se poderia pensar. O menino carecia de internamento urgente.

- Não temos dinheiro, fungou a mãe entre soluços.

- Não importa, respondeu o doutor.

Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica que o menino seria sujeito a devido tratamento.

Hoje quem visita o consultório raramente encontra o médico. Manhãs e tardes ele se senta num recanto do quarto de internamento do menino. Quem passa pode escutar a voz pausada do filho do mecânico que vai lendo, verso a verso, o seu próprio coração.

Mia Couto