30.9.09

Reggae Time - Redemption Time



BoB Marley - Redemption Song

A qualidade do vídeo não é sublime, mas o saudosismo já exigia este post...ai de mim.

26.9.09

Furo - Bastidores do Largo do Rato: Manuela Muora GuedesGate



O gestor do The Royal gostaria de deixar patente que este vídeo é puramente ficcional, e que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. Para mais, não reflecte as visões ou posições assumidas pelo The Royal. O gestor do The Royal gostaria ainda de tornar público o enorme apreço que lhe merece a figura do Sr. Engenheiro José Sócrates, que tem em elevada conta e por quem cultiva uma enorme admiração e um profundo respeito.

23.9.09

Poetry Rules - Eugénio de Andrade

Balança

No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.

(Ofício de Paciência)

Andrade,sempre Andrade

22.9.09

1000 Mirrors - Asian Dub Foundation ft. Sinead O`Connor



A Thousand Broken Mirrors
A scream a shout far in the distance
Maybe the first or second floor
Curtains colouring the windows
Never see behind closed doors
A silent siege behind politeness
Domestic harmony for show
Lost in the mirage of a marriage
Outside a world she'll never know
And as I see through the real you
I'm falling Straight into
A Thousand broken Mirrors
I can't hide
And outside the bright lights
Can't hide the pain inside
And I've broken a thousand mirrors
Now it's time(x 4)
Loving her children with a passion
Protecting them at any cost
Taking the only course of action
There's no more bridges left to cross
Who are the ones that are the guilty?
Who are the ones that bear the scar?
We must not leave our sisters bleeding
We sing this song for Tsoora Shah
And as I see through the real you
I'm falling Straight into
A Thousand broken Mirrors
I can't hide
And outside the bright lights
Can't hide the pain inside
And I've broken a thousand mirrors
Now it's time(x 4)

21.9.09

Poetry Rules - Eugénio de Andrade

Alba

Como se não houvera,
Bosque mais secreto,

Como se as nascentes,
Fossem só ardor,

Como se o teu corpo,
Fora a vida toda,

O desejo hesita,
Em ser espada ou flor.

Porque gostaria de ter escrito isto...para ti.

17.9.09

Poetry Rules - Xavier

ouço a minha voz e nela reconheço a tua ausência

ouço a minha voz e nela reconheço a tua ausência. o calor do teu abraço ainda me envolve, e já anseio por ele. o toque de canela que se solta da tua pele posso senti-lo nesta cama, onde já foste minha e onde voltarás. não temos tempo para conversas vãs, o desejo é mais urgente. o vestido vai ficar novamente aos pés da cama e a prometida rosa só chegará com os teus beijos matinais.

3 VIII 2009

15.9.09

Porque sobrevivemos em sociedades, essencialmente, em Fúria.


"A vida é fúria, havia pensado. Fúria, sexual, edipiana, política, mágica, brutal, leva-nos aos nossos melhores picos e às mais grosseiras profundezas. Da fúria nasce a criação, a inspiração, a originalidade, a paixão, mas também a violência, a dor, a destruição pura e destemida, o dar e receber golpes dos quais nunca nos recuperamos." (p. 41)

12.9.09

Poetry Rules - David Mourão-Ferreira

Nada Garante que Tu Existas

Nada garante que tu existas
Não acredito que tu existas

Só necessito que tu existas

8.9.09

To Josephine With Love - Napoleão

“Deixei de vos amar e, pelo contrário odeio-vos. Sois horrenda, muito grosseira, muito estúpida, uma verdadeira Cinderela. Não me escreveis de todo, não amais o vosso marido. Conheceis o prazer que as vossas cartas lhe dão, e não lhe escreveis nem seis linhas, mesmo numa caligrafia descuidada. O que fazeis todo o dia, Madame? (…) Josephine, tem cuidado, uma destas noites as portas vão abrir-se e eu estarei aí. …. Escreve-me depressa quatro páginas, dizendo aquelas coisas ternas que enchem o meu coração de sentimento e prazer. Espero há muito estreitar-te nos meus braços e fazer chover sobre ti um milhão de beijos tão quentes como o equador.”
(Napoleão Bonaparte , 1769-1821, para sua mulher Josephine)

3.9.09

Uma dor por aí - António Lobo Antunes

É agosto e se fosse pequeno estava a caminho de Nelas com a família, não, Nelas em setembro, em agosto a praia, o raio de uma praia sem sol, nevoeiro e frio, a vendedora de bolos a passar com o cesto, as ondas cinzentas. Uma casa pequenina, alugada, a gente ao monte lá dentro.

Hoje, depois de escrever dez horas seguidas e sentindo-me cansado demais para continuar, levantei-me da mesa e tirei um livro da estante do corredor. Calhou ser Dickens, numa edição barata da Wordsworth. Tempos Difíceis. Abri-o onde resolveu abrir-se e apareceram quatro linhas mágicas: um filho visita a mãe, velha e muito doente. Pergunta

- Sente dores, mãezinha?

e ela responde

- Tenho ideia que anda uma dor por aí mas não estou certa de me pertencer

e fiquei parvo com isto. Entre parênteses adoro ficar parvo com o que os outros escrevem: só costumo ficar parvo comigo, a interrogar-me de onde é que é aquilo saiu, porque não foi de mim com certeza, de maneira que penso que a mão de um anjo substituiu a minha. Tenho ideia que anda uma dor por aí mas não estou certa de me pertencer é uma pérola única. Igual à vida: quantas vezes senti isto, sinto isto, sem ser capaz de o exprimir. As dores que me pertencem são fáceis, as que não estou certo de me pertencerem custam tanto. Viro-as para um lado e para o outro, estudo-as contra a luz, experimento-lhes o cheiro, a consistência, a cor e a dúvida perpétua

- Pertence-me?

a perplexidade, a hesitação, enquanto a dor dói e me faz sofrer para burro. Estamos muito bem na sala e aí anda ela pelos cantos, fazendo de conta que não existe e no entanto a arranhar, a arranhar, ou antes a lacerar-nos todos, a gente para a dor

- És tu?

e não responde, finge que se vai embora e fica, que não nos liga e insiste, que não quer saber de nós e não desanima. Até no meio do prazer, até no meio da alegria permanece, alarga-se, entra mais fundo, com um arzinho distraído, não nos deixa em paz. Para quê falar nisto, o que interessam as minhas dores, de resto? É agosto e se fosse pequeno estava a caminho de Nelas com a família, não, Nelas em setembro, em agosto a praia, o raio de uma praia sem sol, nevoeiro e frio, a vendedora de bolos a passar com o cesto, as ondas cinzentas. Uma casa pequenina, alugada, a gente ao monte lá dentro. Eu lia, comprava o jornal desportivo, compunha versos que deviam ser frescos. E, toda a noite, o cordeiro do mar a balir. A minha mãe em fato de banho, o meu pai aos fins de semana, a cheirar a cachimbo, comigo na cama, de tábua nos joelhos, a aperfeiçoar redondilhas. Que diabo de texto é este em que comecei em Dickens e já vou nas redondilhas? A culpa é da esferográfica que vagabundeia sozinha. Nos livros sou disciplinado, nestas prositas divago. A dor, que não estou certo de me pertencer, abranda e depois volta, digo-lhe

- Olá, dor

e não lhe dou confiança. Não se deve dar confiança nem a nós, há que nos pôr em ordem. Põe-te na ordem, António, tu que durante a vida inteira detestaste obedecer. Aliás não te podes queixar, passaste o tempo a fazer o que querias. Agora, sei lá porquê, veio-me à ideia o meu irmão Pedro, o silêncio dele. Gosto de silêncio, de escutar palavras não ditas. Também gosto de pessoas que falam porque me permitem ir embora continuando ali. Elas falam, digo que sim com a cabeça e não estou. Estou onde? Na varanda da Beira a olhar a serra, por exemplo. Ou em parte nenhuma, num esconso interior, sentado no chão, de joelhos na boca, escutando o que não há. Desde que me lembro escuto o que não há, deixo que as coisas se inventem cá dentro, a minha cabeça é uma praia que a água invade e esquece. Neste momento, por exemplo, invadiram-me os travestis do meu bairro, com o seu único par de sandálias, heróicos no passeio, um movimento para diante quando se aproxima um carro, um movimento para trás quando o carro se afasta. Conquistaram duramente o quarteirão às mulheres pagas, após brigas de alto lá com o charuto entre os rapazes que protegem os dois negócios, um ganha-pão

(agrada-me o termo ganha-pão)

trabalhoso porque implica vigilância constante e bofetada fácil, para além dos quilos suficientes para se darem ao respeito. Lá voltam os Tempos Difíceis

(dar-se ao respeito também me agrada)

- Sente dores, mãezinha?

e no caso de se interessarem por mim o que responderia? Talvez, lá no fundo, mas disfarço, garanto. É que existem coisas que não sararam na alma, não hão-de sarar nunca: as árvores de um cemitério de província a tremerem, algumas mortes, a minha violência tantas vezes injusta, patetices, indelicadezas, faltas de atenção com quem o não merecia. Espero ter melhorado, acho que melhorei mas continuo sem me perdoar o egoísmo necessário à escrita que me obrigou a cortar tantos pescoços que se interpunham entre eu e ela. No entanto, aprecio o António: comove-me a sua feroz guerra civil interior, a vulnerabilidade escondida, a compaixão que não mostra. O imenso orgulho que tem nos seus poucos amigos, a admiração por eles, o respeito. Dois homens, quando são homens, estão condenados a entender-se, não é? Agosto e o bairro deserto. Sobro eu, o senhor Cardoso da mercearia, o senhor Miguel do café, pouco mais. Ah, o senhor Varela a quem todos os dias pergunto pela diabetes. Até os pombos se foram, os restaurantes fechados. O senhor Cardoso viaja para a Beira Alta, perto de Seia, perto de mim. Fala da terra numa exaltação que me toca, mostra fotografias de casas e ruas, enquanto a esposa aprova. E o ar, senhor doutor? E a beleza daquilo? Alimento-me dos iogurtes que lhe compro, recebem o meu correio

- Uma encomendazinha do estrangeiro de que a dona Irene corta as guitas com a faca: livros

- Muito livro há-de ter você

acha o senhor Cardoso, cujo filho, ao que parece, lê que se desunha:

- Lê tudo, o meu filho

e a dor que anda por aí e não estou certo de me pertencer amaina. Se a Joana

- Sente dores, paizinho?

afiançava-lhe logo que não, quais dores, que tolice. Dúzias de lugares para automóveis na rua, um casal na esplanada do senhor Miguel, um compincha drogado que a cocaína electriza. Mostra-me as tatuagens das cadeias

(Vale de Judeus, Pinheiro da Cruz)

onde passa temporadas a banhos por assaltar pessoas com um canivete. Garante

- Se fosse preciso matava por si

e desaparece num salto, pobre esqueleto desfeito. Dor nenhuma claro, Joana. Só que de tempos a tempos, mas isso não te digo, o coração num pingo. Não tarda nada passa, julgo eu. Julgo não, tenho a certeza: mais um minuto ou dois e há-de passar.

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