22.12.10

— Porque não tentamos uma coisa diferente hoje, tipo…ter saudades?

experimentei as últimas horas

mãos, flores, um certo frio de flores a despertar, de mãos a nascer, o primeiro sangue do Douro, tudo virgem, o homem por se fazer, todas as mentiras ainda e os segredos, os nomes todos, o teu nome

— Porque não tentamos uma coisa diferente hoje, tipo…ter saudades?

Novembros que apetecem sempre, tu que me apeteces sempre também, tu a pores-te no meu pijama que isso de morrer aos bocadinhos não existe, eu bem sei, e a fazeres-te ainda mais linda, como se isso fosse possível, e eu a apaixonar-me ainda uma vez mais, que isso de morrer aos bocadinhos

— Não sei, a minha alma raramente faz sentido

a chuva lá fora, tão longe que não parece mas passamos a vida inteira nisto e de repente, e nem de repente, passamos mesmo a vida inteira nisto, asas que amortecem quedas asas que deixam e partimos os ossos todos se passamos a vida nisto asas que a cair não sei

mas há uma morte certa para todas as coisas, um dizer

— Custa tanto dizer certas coisas

melhor fingir, amo-te, não vás, para sempre

— Mesmo quando se sente

melhor fingir, e fingir a chuva também, e esquecer os Domingos passados na cama a fazer música com os cobertores, a fazer música com os lençóis, a fazer música ou poesia com os teus dedos, com os nós dos teus dedos, a fazer amor ou poesia

— Sobretudo quando se sente

amo-te não vás para sempre, melhor fingir

que não se sente o que se sente que não se quer sentir o que se sente que se sente outra coisa que existe mais alguma coisa para além de e a chuva também, mas ainda longe

— Sobretudo quando só se sente… Achas que amanhã me podes amar mais um bocadinho?

que os planos existem para isso mesmo, não serem cumpridos, não esse plano, não esse que não pode ser tocado, e ainda me surpreende o facto de aceitares isso com tanta dificuldade

— Foda-se, acho que sou louco por ti

que os planos existem para isso e para conseguir finalmente dizer adeus a quem nunca precisou de partir, e partir

que nunca precisei de saber o que não queres contar ou o que talvez não tenha sido ou o que talvez não sabes

que

não te vou magoar, não te vou deixar sozinha e quando me pedires para te levar para casa sabe

nunca precisarei de saber o que não queres contar

e não espero de ti nada que me possas dar

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